O intelectual lisboeta
Tem, porventura, a sua graça que no tempo do hedonismo se tenha, ao mesmo tempo, cunhado a expressão “guilty pleasure”, prazeres culpados ou aquelas coisas de que se gosta, mas com pouca simpatia social, no fundo, algo apreciado com vergonha perante os outros. Sempre tive alguma dificuldade em aceitar o conceito, embora tenha, pelo menos, um. Há quem goste de ler revistas de celebridades, há quem aprecie o correio sexual dessas mesmas revistas, há quem se deleite com música pimba – é o meu caso, e não vejo razões para a culpa, não mais do que para o prazer. O meu “guilty pleasure” é ver, ouvir e ler um certo tipo de português, algo comum na elite, a que alguém, por razões desconhecidas, resolveu descrever como intelectual, talvez à falta de melhor adjectivo, e a que eu acrescentaria aqui, como complemento e para facilitar, lisboeta.
O intelectual lisboeta, note-se, pode não ser de Lisboa. Mas Lisboa é para ele o fim e o princípio de tudo. Do mundo, da vida e do seu próprio intelecto. O intelectual lisboeta tem numa certa e decadente Nova Iorque dos anos 80 o seu umbigo cultural, mas para ele o mundo livre não deixará, jamais, de ter........
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