Pode? Uma discussão complexa
O aparecimento do Chega está a testar os limites do edifício político, institucional e social construído em Portugal nos últimos 50 anos, assim como as normas sociais de convivência democrática. Salvo raras excepções, como a intervenção da troika, até ao aparecimento de Ventura no espaço mediático, a democracia Portuguesa deparou-se com desafios suaves. A qualidade das instituições, a fibra democrática e liberal de políticos e cidadãos, e a capacidade de conviver com opiniões que, em muitos casos, são abjectas ficam visíveis nos tempos difíceis. Nos tempos fáceis, durante os quais os políticos se auto-policiam para conviver dentro do espaço normativo da democracia liberal, é fácil ser liberal. Agora, é preciso saber conviver com quem não gostamos. A polémica do último fim-de-semana já foi muito debatida. No entanto, não quero deixar de acrescentar alguns pontos ao debate.
1. Apesar de ser importante, o debate que aconteceu no último fim-de-semana foi, maioritariamente, tido entre elites mediáticas, académicas, culturais. No fundo, se quiserem, um grupo pequeno de pessoas, maioritariamente concentradas em Lisboa, que, de forma mais ou menos próxima, se conhecem todas de várias andanças políticas e públicas. Neste contexto, não podemos deixar de considerar o grande potencial para a falsificabilização de preferências e para a pressão social para a sinalização de virtude. Na prática, isto significa que há uma pressão social fortíssima para que muita gente utilizasse as suas redes sociais, ou os artigos de jornal para aqueles que têm privilégio de ter voz pública, para mostrar o quão indignada está com as declarações de Ventura.
2. Na era em que vivemos, a sinalização da virtude é fundamental para a construção de muitas personagens públicas que, no fundamental, acumulam crédito e capital social com a demonstração constante que estão do lado........
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