Espanha em transe
No dia 25 de Abril, quando Portugal festejava o seu dia maior, Pedro Sanchéz, o primeiro-ministro Espanhol, decidiu escrever uma carta aos cidadãos. Nessa carta, Sanchéz deixava o país em suspenso, anunciando que passaria os próximos dias a reflectir, nas palavras dele, “se valia a pena”. Queixando-se de um ataque sistemático por parte dos meios de comunicação social e da justiça, numa campanha negra orquestrada, como não poderia deixar de ser, pela direita e pela extrema-direita, Sanchéz atirou para a segunda-feira seguinte a comunicação ao país das conclusões da sua reflexão. Na segunda-feira seguinte, às 9 da manhã, Sanchéz teve um encontro oficial e formal com o Rei, levando toda a gente a intuir que uma decisão mais conclusiva estava próxima. Quando se dirigiu ao país, porém, Sanchéz comunicou que tinha reflectido e que havia chegado à conclusão que continuaria a ser primeiro-ministro. Esta ópera bufa só pode ser caracterizada de uma maneira: patética.
Em primeiro lugar, descritos os factos, vamos à forma. Pedro Sanchéz decidiu comunicar directamente com os cidadãos, ignorando completamente as instituições, incluindo o seu próprio partido. As cúpulas do PSOE foram apanhadas de surpresa com a carta de Sanchéz. Como vem nos livros, os partidos políticos e as instituições servem para organizar o processo de tomada de decisões, racionalizá-lo e dar-lhe densidade jurídica. A ideia de comunicação não-mediada entre políticos e cidadãos faz parte do cânone dos populistas. Notem que acho Sanchéz um homem extremamente inteligente e um político muito hábil. No entanto, numa democracia Europeia civilizada e avançada, escrever uma carta directamente aos cidadãos elencando uma litania de queixas contra a suposta campanha dos ‘ultras’ só é algo normal no livro de truques de Pedro Sanchéz.
Ainda na forma, durante o fim-de-semana de suposta reflexão do primeiro-ministro Espanhol, assistimos a momentos que me deixaram verdadeiramente perplexo. Tinha voltado a Madrid no dia anterior. No entanto, ouvindo falar Espanhol na rua,........
© Observador
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