Regular a Internet
O mundo, o nosso mundo, é um encontro desencontrado. Quero dizer, somos feitos, todos nós, de partes e mais partes e a soma das partes fazem-nos olhar, a maior parte das vezes, de forma diferente, se comparados com outros. A divergência e a convergência no olhar dependem de múltiplos fatores individuais e coletivos. Aquilo que nos une e nos separa. O mundo, o nosso mundo, hoje, é um caleidoscópio que, ao mesmo tempo, está sempre a mudar e não sai da imagem que nele se fixa. Depende de quem olha. Quem olha olhando para o mesmo vê outra coisa. Um jogo de futebol ou um concerto podem ser exemplos de convergência, toda a audiência com o olhar dirigido para uma mesma interpretação do que se está a passar. Um jogo de futebol é um jogo de futebol e um concerto é um concerto. Parece simples concordar, mas a vida evidencia que é mais simples discordar. No jogo político, por exemplo, ao ver a mesma coisa, habitualmente, vemos coisas diferentes. Dir-se-à que é a diferença defensável a partir da liberdade de opinião. Todavia, mesmo a consideração da diferença defensável decorre de um acordo sobre aquilo a partir do qual se pode divergir. Por exemplo: todos concordamos nas bases do Estado de Direito. E depois, podemos discordar, mas respeitar, as decisões tomadas pelos tribunais, a organização parlamentar ou as decisões do governo. Todavia, hoje, não é assim. Não existe um acordo sobre as bases institucionais, a partir do qual se constrói a diferença de opiniões. Há, efetivamente, uma rutura do que se costuma chamar contrato social – os princípios estáveis que regem a vida individual e coletiva dentro de dada sociedade.
Atualmente, o que preocupa, é a cisão do olhar – não há encontro numa base a partir da qual se diverge – há uma interpretação substantivamente diferente, de raiz, da realidade, ou daquilo a que chamamos realidade.
Como chegámos aqui, em poucas décadas?
As transformações das bases do contrato social acontecem, incrementalmente ou por via revolucionária. Ao longo de milénios, mesmo nos........
© Observador
visit website