menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

O espelho

23 1
01.01.2024

Era uma vez um homem que tinha por si próprio a maior das considerações. De manhã, ao levantar, enchia o peito de ar, olhava-se ao espelho e dizia: “Tens muita sorte, espelho, de poderes refletir a minha imagem!”. Depois de, longamente, se apreciar, erguia a voz no quarto povoado pelo seu ego, declarando, solene: “Sou magnífico! Magnífico!”. E o eco, entre as nove paredes, o teto abobadado e o chão brilhante, repetia, tonitruante: “Magnífico! Magnífico!”. Satisfeito pelo coro laudatório, o homem, cumprido o ritual das abluções matinais, sentava-se sobre o estrado, no tapete de seda debruada a ouro fino. Ocupava uma posição central, no pavimento feito com os mais preciosos mármores, embutidos pelos melhores artesãos. Cornucópias, flores, frutos, numa talha profusa de cores naturais e refinado corte, compunham a geografia da superfície, cenário de requintada abundância, sob os seus pés. Altaneiro, olhava à volta, declarando: “Mesmo sentado, sou magnífico!”. Depois, fazia silêncio, cerrava, devagar, as pálpebras, ao........

© Observador


Get it on Google Play