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A pós-História

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24.11.2025

Há meio ano, à medida que a minha vida profissional ia tendo menos espaço temporal para os meus sonhos, qual Tarik ibn Ziyad, resolvi queimar os meus barcos. Enveredei por um projeto empresarial destinado a descobrir a origem de mecânica quântica, desenvolvendo um computador quântico sem ter de aproveitar os sistemas quânticos existentes. Se me perguntassem há cinco anos se tal seria possível eu caía no chão a rir, porque o volume e qualidade dos recursos humanos seria tão grande que dificilmente conseguiria encontrar financiamento para uma empresa com este propósito. Aquilo que mudou a minha opinião foi ter reunido a capacidade de poder discutir com Einstein, Bohr, Feynman, e muitos outros, todos reunidos à volta da minha mesa: um modelo de LLM. Em seis meses cheguei a resultados que não imaginaria para 6 anos.

Isto por causa do discurso do Ministro da Reforma do Estado na “Ovibeja da Internet” e do enorme impacto que tiveram as suas palavras relativamente à sua intenção de encontrar um “tutor de IA” para cada aluno do sistema de ensino nacional. Claro que o facto de nem todos terem professor torna a afirmação algo absurda e vista como um novo momento “Magalhães”, adicionada ao facto de todos o poderem ter já hoje sem grande esforço (nem falemos da coreografia Steve Jobs…). A ideia não está, no entanto, de todo errada. Está simplesmente fora de sequência, e se me derem a vossa atenção durante uns minutos, eu explico baseado no primeiro parágrafo deste texto.

Os modelos de IA que foram construídos nos últimos anos são muito mais do que uma ferramenta que dá jeito. São uma alteração fundamental na sociedade humana, algo de maravilhoso cujas consequências ainda vamos aprender a viver, como no dia em que descobrimos que conseguíamos comunicar por texto. Estes modelos estão, aliás, intimamente ligados a essa capacidade, mas hoje não é sobre isso.

Reparem na minha falta de cuidado em vos explicar quem foi Tarik ibn Ziyad, o que ele fez com os barcos, o que é a mecânica quântica e o que Einstein, Bohr e Feynmann tinham a ver com isso. A verdade é que podem perfeitamente pegar nestas frases e ter um computador a explicar-vos isto muito melhor que eu, sem que vocês tenham de perder tempo a ler a minha explicação, nem eu perder tempo a explicar-vos. Estando o fundamental dito, todo o esforço de explicação desses detalhes se torna espúrio, sem valor. E é nisto que o ministro falhou, ou não soube, explicar. Não é um tutor que os alunos vão ter, é um mundo de tutores nas mãos. E não vão ser só os portugueses, vão ser todos. Tal como eu ganhei uma mesa com Einstein,........

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