A ditadura da liberdade
É sempre arriscado atirar uma destas, mas diria que nunca num regime democrático se conseguiu ter uma verdadeira liberdade religiosa. O que, se pensarmos bem, é perfeitamente natural atendendo que religião organizada é, no fundo, criar o sentimento de comunidade em torno de algo inquestionável, uma divindade. Se a divindade é a mesma, e a necessidade de separar comunidades continua, então divide-se pela forma como não se questiona o inquestionável. Ou seja, invariavelmente, religião gera comunidade, o que é bom, mas também as divide, o que é mau. O resultado é, e sempre foi, “nós” e “os outros”.
Podendo escrever-se nas pedras que todos podem escolher a comunidade que entenderem dentro do chapéu organizador do Estado, o facto é que, no fim do dia, há “nós” maiores que “outros”, e os “outros” acabam a respeitar aquilo que o “nós” decide que é inquestionável ou então são oprimidos de alguma maneira. E o “nós”, quando vota, garante que o inquestionável dele é muito mais inquestionável que o dos “outros”. Por isso a Câmara Municipal de Lisboa apoiar a construção de uma mesquita na Mouraria é um escândalo, mas gastar dezenas de milhões de euros num evento católico que atravancou a cidade inteira durante 3 dias é um orgulho nacional.
Para ilustrar a coisa, veja-se a reação dos portugueses quando se revelou que havia muçulmanos na Mouraria (sabe-se lá de onde veio o nome) e que estavam a fazer cerimónias religiosas no Martim Moniz. Reação essa que não é particularmente diferente da reação dos ingleses e, diga-se a verdade, infinitamente mais pacífica do que a reação que os sauditas teriam a uma missa católica, romana ou anglicana, no meio da praça principal de Riade. O facto é que dificilmente podemos separar o crescimento dos movimentos xenófobos da opção religiosa maioritária de alguns imigrantes na Europa. Sendo os Estados do velho continente quase todos democráticos e quase todos impondo esse princípio civilizacional básico de liberdade religiosa, o facto é que as próprias fundações da democracia parecem combatê-lo.
Mas não foi a religião........





















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