Os encolhidos
Como é sabido há um confronto de ideias entre os que defendem uma reescrita da História da escravatura e dos impérios coloniais segundo padrões politicamente correctos, e os que se lhes opõem. A esse respeito escrevi, no meu anterior artigo, que esse confronto se trava no campo da opinião pública e que, para o vencer, é necessária uma narrativa. Os woke têm-na. É, em traços gerais, uma narrativa culpabilizadora do homem branco e que enaltece e desresponsabiliza o homem negro. Para a confrontar e bater é necessária uma narrativa que, ao contrário da woke, seja historicamente informada e equilibrada, estruturalmente verdadeira e pelo menos tão convincente como ela.
Ora, pelo que se vai vendo isso tem falhado. Há uns meses Jordan Peterson perguntava-se, no contexto de uma entrevista ao Telegraph (que pode ser ouvida no YouTube), porque é que a esquerda woke se impõe e porque é que os seus adversários, que ele situa à direita, não reagem e não fazem ouvir a sua voz. O próprio Peterson deu a sua interpretação para essa estranha apatia: “A direita não tem vistas largas nem imaginação. Não tem uma história emocionante e convincente para contar aos mais jovens. E, na medida em que é escrupulosa — sim, os conservadores são conscienciosos — é fácil apanhá-la na armadilha da culpa. E os psicopatas narcisistas da esquerda radical são incrivelmente bons nesse jogo.”
Temos visto isso em muitos aspectos das chamadas guerras culturais em Portugal, mas o problema toca mais ou menos intensamente todos os países ocidentais. A direita e a esquerda moderadas estão em silêncio, encolhidas num canto, com medo de falar. Pior. Ambas assumem as culpas que a esquerda radical lhes despeja em cima da cabeça. É um erro político e é um erro histórico, e esses erros atravessam transversalmente toda a sociedade, ou seja, vão da base ao topo e tanto caem neles os cidadãos comuns como as cabeças coroadas.
No início de Julho de 2023, ao som dos aplausos da multidão que o escutava, o rei dos Países Baixos, Willem-Alexander, veio pedir desculpas públicas pelo envolvimento do seu país no........
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