Homo Deus? Deus preferiu ser Homo
Um dia deste à noite, enquanto fazia zapping no YouTube, apareceu o Joe Rogan à conversa com o Jensen Huang, CEO da Nvidia. Entre perguntas sobre se a IA pode ganhar consciência e a descrição de um novo mundo alicerçado entre chips e algoritmos “conscientes”, a conversa começou a soar a utopia em directo. E foi aí que me lembrei de um livro, igualmente utópico, mas escrito no ainda inocente mundo pré-Covid, Homo Deus, de Yuval Harari. À época, o livro chegou às livrarias como se fosse uma revelação. Em boa verdade, era a versão em papel de uma história antiga. Posicionado como profecia sobre o futuro da humanidade, no fundo era um longo comentário àquela frase sussurrada por uma serpente com boa retórica e péssimas intenções: “sereis como deuses”(1).
Harari compõe, a partir do seu pequeno canto de terra, um ensaio político-filosófico sobre a humanidade inteira. O projecto é ambicioso e ele formula a tese com clareza. O próximo passo da espécie não é a justiça social nem a liberdade, essas utopias perderam validade. O trending topic é a imortalidade. O futuro pertence aos deuses da engenharia genética, da nanotecnologia, dos upgrades biológicos e aos que têm biliões bem aplicados. Progredimos da criatura feita de um sopro e pó(2) ao Homo Deus, com paragem obrigatória no laboratório e na caixa multibanco. Eu, que passei mais de uma década por dentro do negócio do anti-ageing, confirmo o diagnóstico de mercado. O que vende não é a aceitação serena das rugas, é o frasquinho que promete empurrar o espelho alguns anos para trás. Detalhe chato: com ou sem frasquinhos, o tempo raramente colabora. A biologia continua conservadora.
Em Homo Deus, a promessa é outra. Não se trata apenas de parecer mais novo, bonito, forte, trata-se de suplantar a mortalidade. Alguém saudável e com fundos suficientes poderá comprar mais vida, mais performance, mais BioUpgrades. Chegamos assim ao fim da história 1.0, começa um novo período. Substituímos a antiga escatologia por um novo tipo de fim dos tempos, patrocinado por biotechs e algoritmos.
Harari começa, e correctamente, pelo princípio. O Homo sapiens, bicho estranho, só conseguiu construir civilizações graças a ter inventado ficções agregadoras. A conversa do Eclesiástico 17 “Deu-lhes um coração para pensar, olhos para ver, ouvidos para ouvir, e um espírito para refletir. Encheu-os de ciência e inteligência, e mostrou-lhes o bem e o mal.” era apenas isso,........





















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