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“Bullying não é uma “brincadeira que corre mal”

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02.12.2025

Nos últimos dias, este caso ganhou ampla visibilidade pública e gerou forte inquietação na comunidade portuguesa: um aluno de 9 anos sofreu amputação de dedos depois de colegas lhe terem fechado a porta sobre a mão. A mãe revelou que já existiam episódios anteriores de agressão e que a escola tinha sido informada desses sinais. Uma das respostas recebidas foi: “Temos de ter calma, foi um incidente que podia ter acontecido com qualquer criança, estavam a brincar e correu mal”. Este tipo de frase traduz um problema sistémico: a dificuldade que ainda existe em distinguir claramente o que é brincadeira e o que é bullying (e, sobretudo, as consequências perigosas de normalizar comportamentos agressivos através de narrativas que os desvalorizam).

Onde termina a brincadeira e começa o bullying?

Do ponto de vista psicológico, a diferença é inequívoca. As crianças estão a brincar quando todos os envolvidos se divertem num contexto de inclusão, segurança e reciprocidade. Uma brincadeira saudável pressupõe equilíbrio de poderes, respeito pelos limites do outro e ausência de dano. O bullying começa quando uma criança passa a ocupar repetidamente a posição de alvo, enquanto outras obtêm prazer, divertimento ou vantagem às suas custas, seja através de troça, humilhação, exclusão ou agressão física/verbal. A existência prévia de episódios semelhantes, como referido pela mãe neste caso, reforça ainda mais este diagnóstico.

O fenómeno do bullying caracteriza-se por três elementos centrais, reconhecidos pela literatura científica:

– Repetição de comportamentos agressivos;

– Intencionalidade, entendida aqui não como maldade consciente (a categorização em “crianças boas” vs “crianças más” é redutora), mas como persistência, apesar do sofrimento do outro;

– Desigualdade de poderes, quer emocional,........

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