menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Sem tempo

34 9
23.05.2024

Primeiro. A governação do País depende excessivamente do Governo. Deveria estar escorada na Administração Pública a quem o Governo daria as diretrizes políticas. Não é assim porque a nossa Administração, como já acontecia com o Estado Novo, está demasiado politizada e dependente dos Partidos. Era a União Nacional, foi a Ação Nacional Popular, agora são vários atores com a esquerda a controlar em permanência a quase totalidade das “bases” e os cargos de direção com tendência para oscilarem entre quem está no Governo. Isto resulta da necessidade de confiar nos nomeados e da dificuldade em encontrar quem esteja disposto a assumir esses cargos. Algum esforço de renovação, acabar com a “tradição”, tem limitações fortes, a maior das quais reside nos baixos salários que o Estado paga às direções intermédias e superiores. Não há como negar a evidência. Abrem-se concursos e não é raro que os concorrentes não sejam os mais indicados. Nem é certo que a CRESAP funcione da forma mais adequada. Além disso, sendo comum e expectável a excessiva politização dos dirigentes, os governantes desconfiam e preferem meter quem lhes possa ser mais leal.

Segundo. Com uma governação tão dependente do Governo, a fragilidade governativa transmite-se a toda a cadeia de comando. Pior quando, como acontece em Portugal, a Administração está dependente de filiações e/ou fidelidades partidárias. Com executivos de ciclos curtos, mais breve fica a vida do Diretores-Gerais e Presidentes, maior é a instabilidade das instituições, a descrença de quem lá trabalha nas chefias que se sabem ser provisórias, o que torna quase impossível a implementação da condução política da coisa pública. Pode-se renovar, deve-se renovar, mas quem aceitar “entrar” num cenário de instabilidade política e governativa sabe que pode estar num prazo curto. Logo, poderá tentar-se a não fazer nada e o mais comum é não se conseguir recrutar quadros para lá dos “fiéis”. O círculo vicioso da politização da Administração Pública acentua-se.

Terceiro. O atual Governo de Portugal, mais do que é habitual, está com um prazo de vida incerto e provavelmente curto. Não tendo um acordo político com outros partidos, tendo obrigatoriamente de navegar à vista de terra, quase sempre à bolina, com acordos de geometria variável, não consegue implementar uma ideia de sociedade e um modelo de governação e gestão do País. O Governo está sem tempo e já não o tinha no dia em que é empossado. Está sem tempo e sem parceiro, não interessa discutir agora porquê, mas convém ser justo e aceitar que não se vislumbra uma força política com quem a AD se pudesse conjugar. Talvez porque em Portugal se fala demais em “conquistar o poder” em vez de “assumir responsabilidades”. E há partidos com assento no hemiciclo de São Bento a quem falta........

© Observador


Get it on Google Play