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Dois casais

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06.12.2025

Conheci dois casais que odiavam toda a gente. Os primeiros não se coibiam de dizer mal da família e dos amigos próximos perto dos filhos desde que estes eram muito pequenos, filhos que se tornariam, num caso, um maledicente, e no outro, no caso da filha, despertaria nela o desejo de fugir de casa dos pais assim que pudesse. Importa todavia a geometria da maldade composta, em ambos os casos, pela parelha. Talvez em separado houvessem no passado sido pessoas comuns, com as suas antipatias e simpatias. A sua natureza execrável vinha da conjugação. Pioravam-se e pioravam tudo em seu redor.
No fim da vida, odiavam-se um ao outro. Ele ganhara a convicção de que fora ela quem tinha feito dele um traste, infectando-o com a sua malignidade. Ela convenceu-se de que tinha sido ele a pegar-lhe a doença. Detestavam aquilo em que se tinham tornado e nem nesse momento se consideravam responsáveis pelo seu destino, atirando as culpas à cara um do outro.

A certa altura, ele morreu. E ela caiu na cama, com uma depressão que mais do que luto........

© Observador