Está alguém aí fora?
Os acontecimentos que se descrevem a seguir são apenas ficção. Não seria possível que isto acontecesse num país desenvolvido da Europa e muito menos naquele que já foi considerado um dos melhores sistemas de saúde públicos do mundo. Sabemos que os Hospitais são os locais em que existe mais sofrimento e onde as pessoas estão mais vulneráveis: despidas daquilo que são lá fora, face a face com a absoluta fragilidade de cada um, subitamente conscientes da sua própria mortalidade. Sendo o sofrimento aquilo que mais nos conecta como seres humanos, a compaixão perante esta circunstância é uma obrigação que nos separa dos animais, afinal o que distingue e valoriza a humanidade. A história que vou contar de seguida relata o que aconteceria se alguns de nós perdesse a capacidade de reconhecer o sofrimento no próximo ou, pior ainda, que isso causasse indiferença.
Era uma vez uma sala de espera das urgências de um Hospital público, onde havia uma senhora que se esforçava por ser diferente, como se estivesse ali por engano: “O meu patrão é o chefe daqui, ele veio ali e olhou para mim”. Pensei que eu deveria estar no lugar errado, aquilo só podia ser a ala psiquiátrica. Depois insistiu no mesmo: “Hoje há greve dos médicos, já estive aqui muitas vezes e isto nunca aconteceu.” Fui ver as notícias e era obviamente mentira mas engoli em seco. “Os coitados ganham pouco e aquela senhora........
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