A segunda morte de Sá Carneiro
Quando Sá Carneiro morreu, eu ainda era uma criança. Mas lembro-me da música sinfónica ininterrupta na televisão da sala, junto ao relógio antigo com o pêndulo a andar de um lado para o outro. Um jornalista apareceu a dar a notícia e a apelar à calma. O sentimento geral era de luto e perda de esperança, tinham-nos tirado algo precioso que eu não sabia bem qualificar. No entanto, o que descobri ao longo do tempo foi algo mais profundo e que me marcou distintivamente para o resto da vida: podem matar um homem mas não o seu sonho, se for uma ideia universal, altruísta e capaz de melhorar a vida de muita gente. Os discursos que fui depois ouvindo e os planos que fui lendo eram genuínos, com princípios políticos e sociais tendentes a regenerar um povo que clamou por justiça e desenvolvimento. O partido que Sá Carneiro fundou era assente na melhoria real da vida das pessoas, no derrube dos muros que se estavam a construir e um impulso económico irreversível no país. Num Portugal onde tudo era transacionável, deixava sempre claro que o mesmo não acontecia com a ética. Por vezes, na História da humanidade aparecem pessoas assim, o que faz com que sejam assassinados por homens a quem interessa a assimetria social e as divisões.
Candidatei-me a presidente da Câmara nas últimas eleições autárquicas porque........
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