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Baixa densidade, a vantagem do Grande Interior?

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27.03.2024

Acredito que esta afirmação possa parecer, no mínimo, paradoxal. E se as grandes transições em curso – climática e energética, ecológica e alimentar, tecnológica e digital, demográfica e migratória, económica e social, geopolítica e securitária – forem o prenúncio de uma mudança paradigmática de longo alcance no padrão habitual de vantagens e desvantagens comparativas, sobretudo, num país tão pequeno como o nosso. Vejamos, mais de perto, este aparente paradoxo, talvez, mesmo, o sinal de uma revolução silenciosa já em curso.

Em primeiro lugar, num país com pouco mais de 200km de largura a diferença do interior deve ser vista e procurada como uma vantagem comparativa, um imenso hinterland com estreitas ligações a redes urbanas e a uma ou mais áreas metropolitanas. As boas vias de comunicação e as rápidas conexões digitais acabarão, muito em breve, com as anteriores dicotomias paralisantes cidade-campo. É preciso, porém, mapear as vantagens do interior e suscitar para elas novos atores, protagonistas e ideias de projeto. Se estivermos à altura deste grande desafio, o chamado Interior passará a ser, dentro de alguns anos, o nosso colar de pérolas mais precioso.

Em segundo lugar, o universo material e simbólico de uma região contém muitos sinais distintivos territoriais, muitos deles subestimados, ocultos ou ignorados. É a perceção de uma certa iconografia regional que irá revolucionar o conceito de espírito e arte dos lugares, se quisermos, dos novos terroirs do interior. Precisamos, pois, de investir mais na delimitação e identificação desses sinais distintivos e de conceber, a partir deles, mais uma grelha de leitura do território que alimente a diversidade e pluralidade do nosso interior policromático. Espero bem que as universidades e politécnicos cumpram essa missão fundamental.

Em terceiro lugar, não será muito difícil construir uma nova narrativa comunicacional a partir dos referenciais simbólicos presentes no mundo rural, pois eles são abundantes. Eis apenas alguns exemplos retirados desse universo referencial e que, no seu conjunto, compõem o ambiente inspirador dos terroirs do nosso interior: o vagar e a arte da existência (o lema de Évora, capital europeia da cultura em 2027), o silêncio do horizonte longínquo, a espiritualidade e o génio dos lugares, a inspiração transbordante da natureza, o........

© Observador


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