Que grau de ignorância, que traição a esse passado universalmente glorioso se atingiu – o Governo, o Estado, a escola, a AR, o país – para se apagar ou deixar que sejam apagados sem protesto os 500 anos do nascimento de Camões, a epopeia e o passado histórico que genialmente cantou.
Por isso e para isso foi escolhido o atual ministro dito da Cultura, que o anterior seguramente não aceitaria tal silêncio. Cultura, diga-se en passage, que é matéria para os criadores e não para ministros.
Isto mesmo que afirmo sobre a existência de um ministério da Cultura pensava Vasco Pulido Valente, pensa João Soares, suponho, e considerava… Eduardo Lourenço, embora este, com o seu prudente savoir être, nunca o tenha assumido publicamente, mas confessou-mo a mim. Fora, aliás, no Governo de Maria de Lourdes Pintassilgo, com o sábio Professor A. Sedas Nunes ministro coordenador da Educação e da Cultura, a primeira personalidade convidada para ministro da cultura. Recusando com uma cândida justificação: «Não posso porque a Annie não está bem de saúde e não quer deixar Vence».
Mas depois das pragas ideológicas que, com a submissão situacionista e a indiferença cúmplice de tantos de nós, há mais de 40 anos a dominam, é demasiado tarde para que a escola possa ser salva, neste tempo vertiginosamente descivilizador em que morremos.