Fome total
Há um par de dias a imprensa noticiava “fome total” no norte da faixa de Gaza, não a fome que se abate como uma tragédia, mas outra fome, de que nunca se ouvira falar, uma fome total. A expressão devia atravessar-nos a espinha e fazer-nos estremecer moralmente. Quem a empregou foi Cindy McCain, directora executiva do Programa Alimentar das Nações Unidas: “Há fome – fome total – no Norte, e está a avançar para Sul”.
Embora no original, em inglês, o que diz a alta-funcionária das Nações Unidas não seja “total famine” mas “full-blown famine”, a tradução é certeira. Pois, o que pode ser uma fome total senão uma fome que acontece meticulosa, com método, e à qual ninguém escapa?
Uma fome total não é natural, não compara com uma catástrofe natural. É outra coisa, uma fome lançada como uma arma letal num território fechado, e que avança nele como uma peste totalitária, escorrência pela faixa abaixo, uma segunda camada genocida a sobrepor-se à do já maior genocídio do século, que tolheu a vida a 34600 pessoas até à data, a esmagadora maioria civis, a grande maioria mulheres e crianças. Uma fome total é como uma limpeza total, uma imoralidade revoltante, um crime de guerra.
Há um par de semanas, a imprensa noticiava que nas praias de Gaza pessoas morriam afogadas a tentar alcançar comida caída no mar. Isso sim uma tragédia. E notícias........
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