A rarefacção dos lugares
O ar rarefeito tem menos concentração de moléculas de oxigénio. Fica a faltar ar para respirar o mesmo oxigénio. Em altitude, longe do chão, podemos não ter pulmões que cheguem.
Esta rarefacção é uma boa metáfora para pensar o que está a acontecer aos lugares que compõem os territórios de sentido e afectos que habitamos. Vemos cidades e povoações cada vez mais iguais, como se fossem reprodução industrial de um modelo pré-definido. O prêt-à-porter e o pré-fabricado replicam-se em formas prontas de tudo, desde as batatas e os pastéis pré-fritos, os emoticons pré-tipificados das redes sociais, as casas modulares prontas a habitar, o pronto-a-pensar que o ChatGPT nos vai trazendo, a vida toda cada vez mais prêt-à-vivre de acordo com os modelos que o mercado já preparou. É só escolher e comprar.
Os lugares das compras são, aliás, exímios exemplos desta prontidão suspensa do mundo – entramos numa grande superfície como se entrássemos no mesmo sítio não importa a sua localização, seja na Terrugem, no Intendente ou em Freixo de Espada à Cinta, como se cada uma destas “superfícies” fossem porções de um país que existe fora do território, com a mesma climatização, as mesmas prateleiras, os mesmos cheiros. Parece exagero, mas é demasiado preparado o que nos chega à mesa, às mãos, aos caminhos, à vida.
Muito disto tem que ver com a globalização. Como temos uma experiência do tempo cada vez mais igual em todo o........
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