Eu sou o que escrevo
Eu sou o que escrevo. A frase não é minha, mas eu caibo inteiro nela. Em cada palavra está o meu princípio, a minha história, o meu fim. Ainda agora nasci, vivi, morri e isto aconteceu de todas as formas possíveis. Para o efeito, bastaram 41 palavras, sem contar com as últimas 12, nas quais eu também principiei, perdurei e findei. De modo que, só neste parágrafo, já vão 77 vezes da minha vida completa, concreta, absoluta.
Parece uma brincadeira, mas não é. Estou a falar a sério. Ou melhor, estou a escrever a sério. Eu nasço a cada palavra que o leitor pronuncia e vivo apenas enquanto a leitura dura – uma frase, um parágrafo, a totalidade do texto – para depois morrer na mesma proporção. E isto ocorre de tantas formas quantas o leitor quiser.
Para muitos eu sou um totó, um idiota, um tontinho das zonas altas de Santo António que escreve umas coisinhas no jornal – assim nasci, assim vivo, assim já morri. Para outros talvez seja um poeta, um escritor, um artista – quiçá um poeta sem poema, um........
© JM Madeira
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