O país pasmou, esta tarde, com a pantominice de Ventura e a sonsice de Pedro Nuno. À hora a que escrevo estas linhas ainda não se sabe qual será o resultado da eleição do Presidente da Assembleia da República, mas temos a certeza de que o circo desceu à cidade. Quando a festiva inauguração da nova legislatura nos fazia já pensar em qual seria a composição do Governo, e o futuro do país, eis que a primeira votação revelou a natureza dos intervenientes.

Com 50 deputados e um milhão e 100 mil votos, o Chega de André Ventura foi claro: não quer o Governo e não quer saber do país. Chega e Ventura querem colinho e afago.

Com 78 deputados e um milhão e 700 mil votos, o PS de Pedro Nuno Santos não quer saber das instituições e nunca quis saber do país. O PS e Pedro Nuno Santos querem dinamitar a direita e recuperar o poder.

Ambos, concertados no que doravante pode designar-se Partido Shegalista (a previsível e há muito conhecida coligação do PS com o Chega). O país sabe o que pode esperar daqui e destes dois: instabilidade, irresponsabilidade, drama e fogacho.

Vejamos: a coligação vencedora das eleições, a AD, propõe um deputado de direita e moderado, José Pedro Aguiar Branco, para Presidente da Assembleia da República, e sinaliza disponibilidade para ultrapassar uma violação do regimento da Assembleia levada a cabo pela maioria de esquerda, admitindo eleger um deputado do Chega para Vice-presidente da Assembleia da República.

Em face disto, Ventura diz que vota em Aguiar Branco e, na hora da votação, o Chega rói a corda. Não venham falar de princípios, de valores, do interesse do país e de mais não sei o quê. Ventura está-se escatologicamente nas tintas para isso; e a sua palavra e o sentido de responsabilidade do Chega valem tanto quanto a conversa delicodoce do PS e de Pedro Nuno Santos: nada.

Se isto, quanto ao Chega, nesta vertigem de desrespeito pelas instituições, é a direita conservadora, eu vou ali e já venho. Até podem ser da direita conservadora no Burkina Faso, aqui fica evidente que os palhaços do Circo Cardinalli têm mais aprumo e sentido de Estado do que aqueles 50 cavalheiros e senhoras.

Vale a pena, agora, a AD não cair em cantos de sereia. Repito o que tenho escrito: não é um "não é não", são dois "não é não": ao Chega no Governo e a entendimentos com o PS. A AD só deve votar num nome seu. E José Pedro Aguiar Branco, num acto de coragem, sentido de Estado e humildade, disponibilizou-se para voltar a ser sujetio a votação. Agora, quem se "entendeu" para inviabilizar a eleição de um homem moderado (recado ao PS) e de direita (recado ao Chega), que se entenda numa solução.

O argumentário estava todo preparado: do lado do PS, era o grito do “afinal o não é não era uma falsidade, e ei-los coligados”; do lado do Chega, era o grito do “eles são todos iguais, e a AD entrega-se nas mãos do PS à primeira oportunidade”. A natureza dos dois partidos que constituem, hoje, o Partido Shegalista, foi, todavia, mais forte: como na velha fábula do escorpião e da rã, “está na sua natureza”.

À AD resta pôr gelo nos pulsos e foco no essencial. Isto é uma eleição simples, não é preciso um protocolo de Estado para que os deputados escolham de entre as opções. E podem deixar-se de negociatas, porque o país e os 50 do 25 de Abril merecem mais. Votem. E assumam as consequências das suas opções.

[Artigo escrito às 20:30 de 26 de Março, o dia da revelação]

Pedro Gomes Sanches escreve de acordo com a antiga ortografia

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O Partido Shegalista (PS+Chega) tem a primeira vitória da legislatura; perde o país

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27.03.2024

O país pasmou, esta tarde, com a pantominice de Ventura e a sonsice de Pedro Nuno. À hora a que escrevo estas linhas ainda não se sabe qual será o resultado da eleição do Presidente da Assembleia da República, mas temos a certeza de que o circo desceu à cidade. Quando a festiva inauguração da nova legislatura nos fazia já pensar em qual seria a composição do Governo, e o futuro do país, eis que a primeira votação revelou a natureza dos intervenientes.

Com 50 deputados e um milhão e 100 mil votos, o Chega de André Ventura foi claro: não quer o Governo e não quer saber do país. Chega e Ventura querem colinho e afago.

Com 78 deputados e um milhão e 700 mil votos, o PS de Pedro Nuno Santos não quer saber das instituições e nunca quis saber do país. O PS e Pedro Nuno Santos querem dinamitar a direita e recuperar o poder.

Ambos, concertados no que doravante........

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