As Causas. A telenovela do Orçamento
Talvez já estejamos fartos (e aí em casa ainda mais…) da telenovela do Orçamento, mas vamos viver com ela até ao final de novembro.
Sendo assim, não se admirem que hoje tenham destaque o Capitão Haddock, elefantes em lojas de porcelana, o vozeirão de PNS e os seus ralhetes aos socialistas que supostamente estão no cimo de pedestais.
Também se vai falar da necessidade de uma “classe política” e dos tratos de polé que lhe dão o líder do PS e o do CHEGA.
E não vamos esquecer os apoios aos media e o que está curiosamente a gerar…
Parece claro que PNS está metido num colete de onze varas, paralisado entre concordar em se abster na votação do Orçamento ou votar contra e provocar eleições.
Ele tratou deste tema com os pés, ou melhor, com o seu vozeirão. Por isso só de si se deve queixar quando durante a noite acordar com pesadelos ou não conseguir dormir com insónias, como o famoso Capitão Haddock depois de ser “torturado” com uma pergunta: “dormes com as barbas por cima ou por baixo do cobertor?”.
Mas, dito isto, há que reconhecer que não seria nada fácil sair bem desde dilema, a não ser que – como lhe propuseram alguns amigos e aliados, talvez mais cínicos, mas seguramente mais inteligentes e sábios – afirmasse logo após as eleições (ou mais tarde se conseguisse, entretanto, ter ficado calado) que se iria abster sem negociar.
Foi o que fez Marcelo para evitar o mesmo dilema quando liderava a oposição contra o seu amigo Guterres.
Agora tem o partido dividido (incluindo os líderes das estruturas regionais e deputados), o que sempre prenuncia problemas futuros, mostrou defeitos de liderança que darão ideias a outros, e arrisca-se a fugir à tortura da paralisia pela bravata de dar um passo em frente à beira do precipício.
Nesse sentido se deve interpretar o ralhete (mandá-los descer do “pedestal” não é propriamente um ato de ternura…) que PNS fez aos socialistas que comentam nos media e dão entrevistas, de um modo geral sensatos e preocupados com o passo em frente para o precipício.
E há algo mais que o prejudica (como aliás a André Ventura), e que tem a ver com a falta de perceção do que é (e sempre terá de ser) uma “classe política”.
Os sistemas políticos sobrevivem em democracia também com base em relações pessoais e na confiança entre os atores com divergências políticas, estratégicas e ideológicas. Como se dizia no Século XIX, “há mais em comum entre dois deputados um dos quais é radical do que entre dois radicais um dos quais é deputado”.
Foi isso que aconteceu entre Guterres e Marcelo, que puderam negociar sem parecer que o fizessem: no........
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