Balanço de Ano Novo: Caronte e o carro funerário
"E a embarcação estava lá, à minha frente, convidando-me para um cortejo solitário..."
Elegemos alguns momentos do ano para revisões pessoais. Convenções sociais, tipo balanço de empresa, sabe? Peço perdão pela sórdida relação com algo que nos recorda a escravidão diária, mas são os empresários são mestres em furtam esses termos vitais sem consultar ninguém.
O balanço não deveria ser relacionado à contabilidade, mas permanecer, ainda que enferrujado, no quintal dos avós. Mesmo que não nos sustente mais e esteja ali solitário, pois o gesto de ter (ou desejar) filhos se transformou em algo muito corajoso para uma geração que faz da Air Fryer seu novo pet e das samambaias sua nova prole. Resistente, ele deveria ter ficado lá, esperando que alguém lhe dê a utilidade a partir do movimento. Metáfora da vida, que não se equilibra quando está estática.
Em um desses dias, com a chuva fina ao sair de casa, condição meteorológica que define bem essa
época do ano, senti-me obrigado a dirigir dentro da velocidade permitida. Não porque a pista
estava molhada, mas devido ao fato de que, à minha frente, seguia solitariamente um carro
funerário.
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Tem gente que faz o sinal da cruz quando passa diante da igreja. Eu, quando encontro com um carro desses. Sei lá. Mania. Acho que é uma espécie de moeda que pago a Caronte, o barqueiro sombrio que leva as almas para o reino dos mortos. Essa embarcação contemporânea, antes de me entregar a pensamentos mórbidos, sempre........
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