Ensaio nulo no triplo sobressalto
Passaram quase duas décadas desde o que talvez tenha sido o momento mais lamentável que, até hoje, ocorreu num debate eleitoral em Portugal, por muito que o recorde pareça sempre à beira de ser batido. Estavam Francisco Louçã e Paulo Portas num estúdio da SIC Notícias, no início de 2005, quando os portugueses se preparavam para dar maioria absoluta a José Sócrates, quando o bloquista pretendeu fulminar o líder centrista, e proclamou, com a sua expressão de terrível Ivan do filme de Eisenstein, que Portas não tinha direito a falar sobre a interrupção voluntária da gravidez.
“O senhor não sabe o que é gerar uma vida. Eu tenho uma filha. Sei o que é o sorriso de uma criança”, disse Louçã, arremessando a descendência que tinha mais à mão contra o adversário político. De forma tão equivoca que, mais tarde, condescenderia que, apesar da justeza da sua indignação face ao julgamento de mulheres que haviam abortado, teria sido preferível dispensar o argumento para evitar “ambiguidades”. E remataria que “no debate político está-se sempre a aprender.”
No início de 2024, quando os portugueses preparam a despedida da maioria absoluta de António Costa, Mariana........
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