Há uma lógica e técnica de alinhamento simples entre o que pretendes da vida e o que realmente fazes dessa vida. O desalinhamento leva a problemas de frustração e de permanente tumulto interno.

Isto é muito comum com o estudo, o investimento em ti próprio e o trabalho. Porquê? Porque achas que deves investir, mas nunca é o momento próprio, acabando sempre por arranjares justificações para o adiamento. E esse adiamento e a não concretização (ação) acabam por frustrar, nomeadamente porque a tendência é comparares-te com os que te rodeiam. Se eles conseguem porque não hei-de eu conseguir? Deste o passo no sentido da ação? Não. Então como podes esperar resultados similares aos de outros? Eles investem em si mesmos e tu não.

Dito de outra forma, em vez de planeares muito sem grandes consequências, aproveita para realizar mais. Os planos muitas vezes impedem o vislumbre das possibilidades que surgem em tempo real. O alinhamento simples ou ajustamento entre o que pretendes da vida e o que realmente fazes consegue-se, de forma eficaz, por via do que fazes no dia a dia, envolvendo ouvir e colocar em prática duas palavras mágicas: “Fazer bem.” Assim permites que o teu eu com resultados bons seja mesmo uma bússola para o que pretendes da vida.

E isto começa em áreas como relacionamentos, grupos e autoconhecimento, mas depressa se coloca também ao nível do investimento em ti próprio e no teu trabalho. O que realmente importa? O que fazes por ti, todos os dias, importa. O que planeias com grande pompa e circunstância pode não deixar de ser importante, mas, na maior parte das vezes, não passa da cabeça ou do papel.

É precisamente por isso que a ação é vista como um subproduto da clareza por todas estas modernas teorias de “propósito”, mas erradamente. Porquê? Porque justamente é a ação que te vai trazer resultados que possas efetivamente avaliar. Se ficas sempre à procura da clareza essencial para direcionar a atenção e as intenções para algo maior, eliminando dúvidas e distrações que te afastam do que realmente importa, acabas quase sempre a não fazer nada. É tão grande o que constróis mentalmente que se torna irrealizável. E paralisa.

Ao cortares o excessivo pensamento e elucubração mental e mais tudo aquilo que é superficial, é possível focares-te mais no lado prático da vida, centrares a cabeça no resultado e direcionares a atenção para o essencial do que estás a fazer. Por pouco que seja, acaba-o bem. Investe nele a sério. “Não gosto do que faço -- é um pressuposto -- mas já que faço vou fazê-lo bem”. Surpreender-te-ás com o poder do que fazes bem feito, mesmo que teoricamente digas que não gostas do que fazes.

Começar pela busca da clareza, sem mais, como um exercício intelectual e enquadrando-te numa sociedade rápida como a nossa exige muito tempo e muito pouco resultado. A busca pela clareza começa com a curiosidade, claro, mas muito mais direcionada para aquilo que estás a fazer hoje e o que podes fazer dando um passo em frente. Estás a fazer uma proposta? Faz melhor que a última. Estás a fazer uma reunião? Faz melhor que a última. Estás a dar uma aula? Procura dá-la melhor que a última. Pretendes fazer uma formação? Fá-la. Já, agora.

Ao questionares muito o grande propósito da vida acabas num baixíssimo grau de execução e num permanente questionamento próprio sobre o que realmente dá sentido à tua vida. Não gostas do que fazes? Faz ainda mais bem feito o que estás a fazer. Porque será daí que pode surgir algo útil, que preencha, que dê sentido ao que fazes. Se te pões apenas a pensar no propósito último da vida e do sentido que lhe queres dar os anos passarão e não terás feito nada. Nem por ti nem pelo sentido que julgas que encontraste para a vida.

QOSHE - O propósito nasce da ação, não da epifania - José Crespo De Carvalho
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O propósito nasce da ação, não da epifania

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06.03.2024

Há uma lógica e técnica de alinhamento simples entre o que pretendes da vida e o que realmente fazes dessa vida. O desalinhamento leva a problemas de frustração e de permanente tumulto interno.

Isto é muito comum com o estudo, o investimento em ti próprio e o trabalho. Porquê? Porque achas que deves investir, mas nunca é o momento próprio, acabando sempre por arranjares justificações para o adiamento. E esse adiamento e a não concretização (ação) acabam por frustrar, nomeadamente porque a tendência é comparares-te com os que te rodeiam. Se eles conseguem porque não hei-de eu conseguir? Deste o passo no sentido da ação? Não. Então como podes esperar resultados similares aos de outros? Eles investem em si mesmos e tu não.

Dito de outra forma, em vez de planeares muito sem grandes consequências, aproveita para realizar mais. Os planos muitas vezes impedem o vislumbre das possibilidades que surgem em tempo real. O........

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