Mulheres 'do lar' também sofrem burnout
Depois de 25 anos de advocacia, entre audiências, sentenças e recursos ordinários, tive a extraordinária ideia de tirar um ano sabático.
Não tinha nenhuma lógica: eu gostava do que fazia, estava em um bom momento profissional, em harmonia com meus companheiros de trabalho, tinha carinho pelas causas e até mesmo pelos clientes mais chatos. Mas, como eu nunca fui muito apegada à lógica das coisas, foi fácil me convencer de que era hora de dar uma parada antes que viesse o esgotamento.
Recorri a uma dose de irresponsabilidade e banquei a decisão. Tive que reunir coragem para buscar uma nova identidade que me representasse (somos a nossa profissão?), coragem para me organizar sem uma mesa de trabalho, sem horários, sem prazos, sem agenda e, principalmente, coragem para, ainda que provisoriamente, deixar de ser advogada para ser... nada, "nihil"!
Aos poucos fui me libertando da saudade da rotina do escritório, do Código Civil, das justiças e das injustiças, e consegui, por fim, um habeas corpus para viver tranquilamente o meu ano de liberdade. Considerando que o sabático começa num sábado, eu estou na terça-feira, e eis-me aqui, mais exausta do que nunca à beira de um burnout doméstico.
Em vez de descascar pepinos judiciais, me ocupo hoje de descascar batatas e resolver abacaxis domésticos. A jornada de trabalho dobrou, tive que aprender a estar em vários lugares ao mesmo tempo e, sem o direito ao descanso semanal remunerado e sem hora para o cafezinho, os dias se tornaram uma coisa só, una e indivisível.
Aos poucos........
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