menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Nós, amaldiçoados do século XXI

5 0
13.02.2024

O mundo está com algumas coisas estranhas, e o Brasil reflete isso, deixando uns velhos do século passado saudosistas. Nem vou falar de política, do ressurgimento forte de ideias de extrema direita, de inspiração nazifascista. Tô pensando em coisas de costumes e gostos.

Mas antes de entrar nesse assunto, lembro de José Cândido de Carvalho, grande escritor fluminense, cujo livro mais famoso é O Coronel e o Lobisomem, belíssimo. O seu Um ninho de mafagafes cheio de mafagafinhos, de contos, publicado em 1972, foi outro livro famoso. Seus últimos livros foram Se eu morrer, telefone para o céu (1979) e Os mágicos municipais (1984).

Porque Lulu Bergantim não atravessou o Rubicão, foi publicado em 1970, portanto numa época em que não havia internet e os computadores eram grandes trambolhos que não tinham nem um centésimo das funções que têm hoje. Mas ele já se incomodava muito com certas mudanças havidas no mundo, incluindo essa máquina que hoje manda nas pessoas, nas relações pessoais, comerciais e tudo mais. Destrói amores, espalha ódios e afasta as pessoas – a culpa não é dela, é de quem a usa, ela só deu “voz” a quem antes ficava na sua.

Neste livro tem um texto autoapresentativo (olha eu imitando...) intitulado JCC. História pessoal. Reproduzo a seguir o último parágrafo desse texto, porque acho que ele foi um tanto profético. Vejam:

“Publiquei o primeiro livro em 1939 e o segundo precisamente 25 anos depois. Entre Olha para o céu, Frederico! e O coronel e o lobisomem o mundo mudou de roupa e de penteado. Apareceu o imposto de renda, apareceu Adolph Hitler e o enfarte apareceu. Veio a bomba atômica, veio o transplante. E a Lua deixou de ser dos namorados. Sobrevivi a todas essas catástrofes. E agora, não tendo mais o que inventar, inventaram a tal de poluição, que é doença própria de máquinas e parafusos. Que mata os verdes da terra e o azul do céu. Esse tempo não foi feito para mim. Um dia não vai haver mais azul, não vai haver mais pássaros e rosas. Vão trocar o sabiá pelo computador. Estou certo que esse monstro, feito de mil astúcias e mil ferrinhos, não leva em consideração o canto do galo nem o brotar das madrugadas. Um mundo assim, primo, não está mais por conta de Deus. Já está agindo por conta própria.

Niterói setembro de 1970”

Agora vamos lá, Brasil 2024 (mas começou antes).

* Ter cachorro e gostar deles virou obrigação. Nada contra alguém ter cachorro ou........

© Revista Fórum


Get it on Google Play