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Como os rituais culturais sustentam a vida diante da perda e da passagem do tempo

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Os artigos da equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.

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Antes de Portugal, nunca me ofereceram bolo-rei. Em dezembro, no país, parece que todas as visitas e jantares com amigos, em algum momento, incluem esta oferta. Parece que o bolo-rei em dezembro é como as castanhas em novembro, temporada dos magustos. Dei-me conta do esmorecer da temporada das castanhas quando fui colhê-las em Casal dos Bufos, na semana passada e, aos pés dos castanheiros, já quase nada se via. O cessar dos castanheiros em meados de dezembro nos lembra que é tempo de nos despedirmos do outono para vestirmos o inverno, mas as festas de final de ano, entre uma fatia ou outra de bolo-rei, fazem com que a transição seja mais doce e gradual.

No último mês do ano, quando não é o rei, é a rainha. Por acaso, muitos preferem o bolo-rainha para fugir das frutas cristalizadas do rei, que são as joias da coroa do bolo. A tradição do bolo-rei não é tão popular no Brasil, embora seja uma herança colonial mais encontrada no Sul e no Sudeste do país. Da primeira vez que vi algo similar, por acaso, não foi em Portugal. Era Dia de Reis na Espanha e, nas vitrines das pastelarias de Madrid, não se falava em outra coisa. Para eles, o roscón de reyes é a tradição.

Será que comer bolo de reis no Dia de Reis traz boa sorte? Foi o que pensei quando o vi, como se, após levar a primeira garfada à boca, pudesse me acontecer algo mágico. Na verdade, aconteceu. Conheci uma sul-coreana onde estava hospedada e passamos o dia juntas a visitar o Museu do Prado, lugar que nos era inédito.

Ambas viajávamos sozinhas a partir de outro continente e estávamos na Espanha pela primeira vez. Compartilhamos um dia que se fez memorável por ter sido embalado pela conexão genuína sem precedentes e sem expectativas, como o laço de fita que........

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