Cusquice: O Vício Inocente que nos Une
A curiosidade humana é um traço inerente ao caráter coletivo que nos torna bisbilhoteiros por natureza. Desde os tempos em que o primeiro ser humano, num ato de pura audácia, decidiu espiar a vizinha a tomar banho no rio, que somos irremediavelmente atraídos pela vida alheia.
Como diria William Shakespeare, “O olho do homem nunca está satisfeito”. Realmente, quem somos nós para contrariar o poeta? Esta nossa curiosidade inata é tão profunda que, se fosse um buraco, já teríamos chegado ao outro lado do planeta. Portanto, admitamos, somos cuscos, não há como negar!
No passado, a nossa cusquice limitava-se às conversas ao redor das fogueiras e aos cochichos nas praças das aldeias. Mas hoje, ah, hoje, temos todo um mundo novo de cusquice à nossa disposição com as redes sociais e os reality shows a serem excelentes exemplos disso. É como se tivessemos um acesso privilegiado ao espetáculo da vida dos outros. “I’ll be watching you” como nos diz Sting em “Every Breath You Take” aplica-se que nem uma luva!
As histórias e as narrativas alheias exercem, de facto, um magnetismo inegável e manifestam uma conexão profunda entre as pessoas. Quem de nós nunca fingiu estar absorto na leitura de um jornal, enquanto os ouvidos se focam na discussão fervorosa da mesa ao lado?
E o que dizer dos nossos programas de televisão? Das peripécias de José Castelo Branco aos dramas do “Big Brother”, não faltam fontes de entretenimento para alimentar esta nossa — por vezes mórbida até — sede insanciável por detalhes íntimos, quanto mais escabrosos melhor.
Imagine, se pudéssemos espreitar diretamente pela fechadura da casa do vizinho, qual seria o limite da nossa curiosidade? Provavelmente, não haveria limites. Seria uma overdose de realidade que nos deixaria num extâse de satisfação, como no filme “Rear........
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