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Salvar as casas operárias do Bairro da Lomba

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01.07.2024

O antigo Bairro da Lomba é um dos poucos bairros operários da cidade do Porto que ainda mantém uma comunidade viva e relacional. As suas ruas estreitas e tortuosas, as suas casas operárias e populares, as suas ilhas com as suas hortas e quintais ainda conservam toda uma estrutura de tecido urbano marcadamente popular e proletário do século XIX. As suas casas operárias não são produto de uma qualquer racionalidade e funcionalidade formal mas resultado da falta de planeamento habitacional perante o êxodo rural, em que, a par dos interesses de mediadores e proprietários de terrenos, foram uma resposta criativa e popular à necessidade de habitação em nova comunidade urbana. A localização do Bairro da Lomba na parte periférica à cidade do centro justifica-se pela necessidade de encontrar casas baratas e infraestruturas em alternativa à cidade do centro superpovoada. O bairro é de certo modo construção coletiva na medida foram, em grande parte, os moradores inquilinos/as que melhoraram e qualificaram o seu habitat, propiciando um forte sentimento de comunidade.

O bairro da Lomba foi criando e desenvolvendo um sistema de relações sociais, económicas e culturais a partir das quais se construiu gradualmente o referido sentido de comunidade. A Associação de Moradores da Lomba é um exemplo vivo desta dinâmica vicinal, reivindicando as culturas populares, recuperando a história do bairro, ao mesmo tempo que tem promovido as mais diversas atividades desportivas e culturais, prova de uma resistência criativa.

Foi da relação entre habitantes e espaço, casas e moradores/as, famílias e vizinhos/as que a Lomba se transformou num ambiente fabricado pelos seus ocupantes, incluindo um processo de auto-construção relacional ao longo do tempo. O Bairro da Lomba é produto deste processo que tem como base o antigo cadastro da cidade que lhe serve de base e lhe estrutura a forma arcaica e irregular, vernacular e popular. A morfologia deste bairro remete-nos para uma topologização da comunidade, a adequação de uma configuração popular com a capacidade de apropriação do espaço e de construção pelos moradores/as da Lomba.

É nesta relação dialética entre história e memória que se procede à renovação desta num tempo presente. Alguns autores como Ricoeur (1998:9-10) defendem que a criação de memória implica a responsabilidade de recordar. Um recordar que não se limita a um depósito de vestígios para uma leitura com sabor arqueológico, onde o passado não é mais do que um bibelot museográfico. Pelo contrário, o passado-vivido e presentificado no Bairro da Lomba deve ser valorizado, enquanto recurso coletivo, ao serviço dos seus moradores/as e da cidade do Porto........

© Jornal SOL


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