Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG) em 1997. Curioso por natureza, adora buscar histórias. Desde 2005, trabalha no Correio Braziliense, onde entrevistou laureados com o Nobel da Paz, embaixadores e ex-presidentes.

Dia desses, nas redes sociais, vi o vídeo de um bebê palestino morto. Parecia um boneco em farrapos. Meu estômago revirou, o coração chorou baixinho. Que guerra é essa, que matou mais de 13 mil crianças (segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas) em Gaza? Que guerra é essa, que arrancou meninos e meninas de suas camas e as lançou dentro de covas coletivas? Que guerra é essa, cujas bombas interromperam gerações inteiras? Que pôs fim a famílias, relegando-as aos álbuns de fotografías. Quantos perfis de palestinos, nas redes sociais, se tornaram memoriais? Quantos sorrisos, expostos no mundo virtual, agora viraram passado e se perderam para sempre no tempo? Quantas mães buscarão um abraço e encontrarão apenas vazio, saudade e dor? Quantos filhos terão apenas lembranças no lugar de um olhar amoroso de seus pais?

Que guerra é essa, que impõe uma punição coletiva a inocentes? Que transforma seres humanos, amontoados na miséria e na desesperança, em espólios de batalha. Que, além da morte, carrega a fome e a sede, destitui a dignidade, celebra o medo e a dor. Que guerra é essa, que não poupa inocentes e, ante tantas baixas civis, sempre existe uma desculpa de quem bombardeia? Gaza sempre foi uma prisão a céu aberto. Tornou-se um cemitério, um campo da morte, um amontoado de ruínas.

Nada justifica a monstruosidade, a barbárie, a perversidade inominável praticada pelo grupo extremista Hamas em 7 de outubro. Mas, também, nada justifica a campanha de bombardeios massivos por parte de Israel contra a população civil. Sempre a mesma ladainha: alegam que o Hamas usa a população civil como escudo humano. Mesmo que isso fosse verdade, ainda assim seria ilegal e imoral bombardeios a esmo para matar extremistas que se protegeriam atrás de inocentes. Exatamente porque o risco de assassinar inocentes seria exatamente igual. Qual é a lógica dessa guerra?

Deixar se levar pela vingança pode ser cultivar o próprio veneno. Alguém dúvida que muitas crianças órfãs serão alimentadas pelo ódio e também pela sanha de retaliação? Serão potenciais ferramentas de matar, recrutadas pelo Hamas e por outros grupos terroristas. O resultado disso é tão certo quanto dois mais dois são quatro: mais atentados no futuro, mais retaliações de Israel, mais dor, mais luto e um círculo vicioso que apenas abrirá ainda mais feridas em ambos os povos.

Os palestinos têm o direito à autodeterminação absoluta, a um Estado independente e soberano. Alguém raciocinou que um acordo de paz definitivo seria uma pá de cal na existência do Hamas e de outras facções, além de abafar as vozes dos judeus radicais e ultraortodoxos. Alguns desses chegaram a propor soluções esdrúxulas para Gaza, como confinar o povo palestino em uma ilha artificial no meio do Mediterrâneo. Que guerra é essa? Qual é o sentido desse mortícinio?

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Artigo: Qual é o sentido dessa guerra?

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07.02.2024

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG) em 1997. Curioso por natureza, adora buscar histórias. Desde 2005, trabalha no Correio Braziliense, onde entrevistou laureados com o Nobel da Paz, embaixadores e ex-presidentes.

Dia desses, nas redes sociais, vi o vídeo de um bebê palestino morto. Parecia um boneco em farrapos. Meu estômago revirou, o coração chorou baixinho. Que guerra é essa, que matou mais de 13 mil crianças (segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas) em Gaza? Que guerra é essa, que arrancou meninos e meninas de suas camas e as lançou dentro de covas coletivas? Que guerra é essa, cujas bombas interromperam gerações inteiras? Que pôs fim a famílias, relegando-as aos álbuns de fotografías. Quantos perfis de palestinos, nas redes sociais, se tornaram memoriais? Quantos sorrisos, expostos no mundo virtual, agora viraram passado e........

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