Um pedaço do mundo
CRISTOVAM BUARQUE — Profesor emérito da Universidade de Brasília (UnB)
Até recentemente, o mundo era a soma dos países, agora, cada país é um pedaço do mundo; o mundo não é mais a soma de países soberanos, mas um sistema integrado deles. Os problemas passaram a ser planetários: mudanças climáticas, migração em massa, poder das big techs, crime organizado, internacionalização das cadeias de produção, pobreza, desemprego, inteligência artificial. Depois da radicalidade da globalização econômica e cultural, da disponibilidade das estatísticas globais com possibilidade de processá-las em computadores, das mudanças climáticas e depois da visão da Terra fotografada desde o espaço, já não faz sentido dizer "o que importa é meu país". Não se justifica mais dizer "Amazônia é nossa e podemos queimá-la, pavimentá-la, explorar seu petróleo". A Amazônia é nossa, mas temos uma responsabilidade para cuidar dela em nome da humanidade.
O mundo é um sistema de países, mas a política continua a decidir por país soberano, no máximo conversando entre eles, mas ainda com a visão de "o que importa é meu país". O mapa mundi com forma de quebra-cabeça, onde cada país é uma peça, já não representa a realidade onde todos são partes do conjunto. A geografia tradicional deixou de representar a realidade social, econômica e cultural, mas continua representando a realidade política. A geopolítica não representa a ecopolítica, mas ainda é a maneira de tomar decisões.
Antes, a Terra era questão de astrônomos e a humanidade, questão de filósofos. Agora, são temas do dia a dia, mas ainda não são questões........
© Correio Braziliense
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