Se temos a geração mais qualificada de sempre, estavam à espera de quê? Que se mantivessem por aqui, apesar dos salários miseráveis que lhes pagam? Que se mantivessem por aqui, quando um apartamento numa periferia mal servida de transportes públicos custa meio milhão de euros, ou mil euros de renda por mês? Que se mantivessem por aqui quando se exigem horas sem fim de presença no local de trabalho, sem flexibilidade nem tempo para os amigos e a família e muito menos para um dia dedicar aos filhos? Que se mantivessem por aqui apenas porque temos muitos dias de sol, boas praias e cerveja a bom preço?

A fuga dos jovens portugueses não é um problema novo e não tem solução fácil. E não será seguramente com descontos no IRS que um jovem, seja ele mais ou menos qualificado, trocará um qualquer país europeu por este retângulo à beira-mar plantado. E muito menos um retângulo com um único ralo estrategicamente posicionado em Lisboa, para onde escorre o essencial da riqueza e dos recursos humanos que sobram no país.

Vem aí uma campanha eleitoral, os partidos vão apresentar os seus programas, os dois principais candidatos a governar o país (Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro) farão juras de amor à tal geração mais qualificada de sempre, mas nenhum terá um único argumento, e ainda menos a credibilidade, que permita mudar alguma coisa de forma substancial.

Um ecossistema político, económico, empresarial, cultural que não tenha uma visão integrada do território, que não seja capaz de inverter este centralismo sufocante, que não é capaz, nem pretende transformar Portugal num país multipolar, é um ecossistema condenado ao envelhecimento e ao empobrecimento, numa União Europeia que, apesar de todos os seus defeitos, oferece um mundo de melhores oportunidades. A quem tem e a quem não tem altas qualificações.

Tenho o privilégio de conhecer vários destes jovens, muitos já passaram lá por casa, mas não conheço nenhum que esteja a pensar trocar Amesterdão, Londres, Berlim, Bruxelas, Frankfurt ou Barcelona por Portugal. E ainda menos pela nossa decadente capital imperial.

QOSHE - Estavam à espera que eles ficassem? - Rafael Barbosa
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Estavam à espera que eles ficassem?

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30.12.2023

Se temos a geração mais qualificada de sempre, estavam à espera de quê? Que se mantivessem por aqui, apesar dos salários miseráveis que lhes pagam? Que se mantivessem por aqui, quando um apartamento numa periferia mal servida de transportes públicos custa meio milhão de euros, ou mil euros de renda por mês? Que se mantivessem por aqui quando se exigem horas sem fim de presença no local de trabalho, sem flexibilidade nem tempo para os amigos e a família e muito menos para um dia dedicar aos filhos? Que se mantivessem por........

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