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O enigma Lula

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11.04.2024

Tempo e maré não esperam por ninguém

Ditado popular português

1 - O argumento deste texto é que Lula devia ouvir os alertas críticos que estão sendo feitas pela esquerda anticapitalista, no interior e exterior ao PT. As ameaças estão aumentando e muito, não só em função das oscilações das pesquisas. Vai ser preciso correr riscos. E o tempo não corre a nosso favor. O lugar individual de Lula foi decisivo em vários momentos nos últimos quarenta anos. Seria injusto não o reconhecer. Mas estamos hoje diante de um perigo que é o “deslumbramento”. Porque o papel de Lula foi qualitativo na estreita vitória eleitoral sobre Bolsonaro. Essas circunstâncias dramáticas explicam os sentimentos de alívio, afeto e até “dívida” que prevalecem na subjetividade da esquerda. Acontece que nenhuma liderança é infalível. E a estratégia do governo de coalizão de apostar no ajuste fiscal, e manter a tática “quietista” diante do neofascismo, mesmo quando Bolsonaro volta a convocar um Ato para Copacabana no dia 21 de abril, e recebe apoio internacional de Elon Musk, merece ser debatida. Excesso de prudência pode ser fatal.

2 - O silêncio diante desta polêmica é deseducativo. A idolatria do papel dos grandes dirigentes é um erro. Recordemos a metáfora da “curvatura da vara”: quando uma vara está muito inclinada numa direção, se queremos encontrar o ponto de equilíbrio é preciso incliná-la, primeiro, até ao extremo oposto. Ao contrário do que pensa a maioria da esquerda sob influência do senso comum, um debate entre posições opostas não se resolve, produtivamente, pela via das mútuas concessões. Em um primeiro momento, para esclarecer as diferenças e reduzir as margens de erro, o melhor caminho é desenvolver cada uma das posições até ao extremo, para conferir quanto das hipóteses iniciais se sustenta. Se o debate é honesto, depois de verificar a melhor posição, se constrói uma síntese, absorvendo ideias, incorporando argumentos, e fazendo as mediações.

3 - Lula é um enigma, mas não é imprevisível. É um enigma porque, dentro de limites calculados, surpreende. Já provou que está disposto a correr riscos, fazendo giros à direita ou à esquerda. Girou à esquerda quando decidiu fundar o PT, quando decidiu boicotar o Colégio Eleitoral da ditadura, quando posicionou o PT........

© Revista Fórum


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