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Intelectuais de esquerda fazem falta

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31.01.2024

O revolucionário russo não deve(ria) ter por ideal o secretário do sindicato, mas o tribuno popular, que sabe reagir contra toda manifestação de arbitrariedade e de opressão, onde quer que se produza, qualquer que seja a classe ou camada social atingida, que sabe generalizar todos os fatos para compor um quadro completo da violência policial e da exploração capitalista, que sabe aproveitar a menor ocasião para expor diante de todos suas convicções socialistas e suas reivindicações democráticas, para explicar a todos e a cada um o alcance histórico da luta emancipadora do proletariado. [1] Lenin

Marx fez questão de escrever com todas as letras no Manifesto Comunista de 1848, um documento programático elaborado para a Liga dos Justos, que a emancipação dos trabalhadores seria obra dos próprios trabalhadores. Existem duas ideias poderosas e indivisíveis nesta palavra de ordem. A primeira é a ideia de emancipação. Para emancipar-se é necessário tornar-se livre. Para tornarmo-nos livres precisamos ser independentes. Ser independente significa agir de acordo com os seus próprios interesses, e não os de outros. A segunda ideia é que nada, nem ninguém pode substituir os trabalhadores como sujeitos de sua própria libertação. Quando elaboradas estas ideias eram somente uma aposta estratégica. Mas podemos dizer hoje que elas passaram a prova da história.

Estas ideias não autorizam, contudo, qualquer idealização da classe operária. Não autorizam qualquer romantização do que defendem líderes sindicais somente porque são de origem operária. Não legitimam a conclusão de que o lugar dos intelectuais na direção de organizações socialistas deveria ser marginal. A epígrafe com a citação de Lenin não deixa margens para a dúvida sobre o que ele entendia como sendo o papel dos revolucionários: lideranças operárias devem se transformar em intelectuais populares, e intelectuais profissionais devem se transformar em ativistas populares. Há lugar para todos.

Recordemos que a Liga dos Justos era uma organização operária, mas Marx era um intelectual com origem na classe média, e Engels era um intelectual com origem burguesa. Determinismo sociológico obreirista é, portanto, mal conselheiro. O obreirismo se manifesta em parcelas do movimento sindical, e em outros movimentos sociais, como desconfiança ou hostilidade pela presença de intelectuais na liderança de organizações de trabalhadores. No entanto, nem sequer a direção do bolchevismo em 1917, uma inspiração para os marxistas revolucionários do século XXI, tinha maioria operária[2].

É verdade que o conceito “obreirismo” permite diferentes leituras. Mas prevalecem, frequentemente, aquelas que se inspiram na ideia de que a autenticidade ou popularidade seriam critérios supremos, em função de pressões mais estreitas. Ter origem popular e ser oprimido, ou ter popularidade não significa ter razão.

Em certa dimensão, o marxismo sempre foi obreirista. Porque ser marxista sempre significou unir o sentido da luta pelo socialismo ao destino da luta dos trabalhadores. O marxismo afirma que o proletariado é uma classe que sofre a dominação em todos os terrenos[3]. Em poucas palavras: explorada economicamente, oprimida culturalmente, e politicamente dominada. Brutalizada, alienada e resignada pela exploração, pela opressão e pela dominação. Porque é despojada de presente a classe trabalhadora é portadora da........

© Revista Fórum


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