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Não é um “não é não”; eram dois e agora são três

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18.03.2024

Se a direita portuguesa não é a mais estúpida do mundo, é pelo menos a mais ingénua. Nos 50 anos do 25 de Abril conseguiu a mais expressiva vitória sobre a esquerda da história da democracia e, no lugar de a aproveitar, ameaça enredar-se na mais estapafúrdia armadilha desde a Geringonça: a tese dos 3 blocos, polvilhada com ajustes de contas. Mas já lá vamos. Primeiro, alguns esclarecimentos. Não é um “não é não”; eram dois e agora são três: “não é não” ao Chega no Governo; “não é não” ao Partido Socialista; e “não é não” à tese dos 3 blocos.

Vejamos, para já, um pouco mais detalhadamente a tese do primeiro “não é não” no quadro da distribuição de poder actual. Não sem antes, perdoar-me-ão, fazer um esclarecimento pessoal, que eu sei que não vos interessa nada, mas que é essencial para perceber certas posições que, deturpadas ao longo do tempo, assumiram formas estranhas às intenções originais: escrevo estas linhas a partir do duplo conforto de ter subscrito o manifesto A Clareza Que Defendemos, no Público, há 4 anos, e de ter escrito aqui, há 4 meses, um artigo com o título Luís, acha mesmo que é melhor do que o Passos Coelho para o que aí vem?. Disse conforto, porque repetiria cada palavra escrita, e porque partindo dessas posições, me sinto, agora, muito à-vontade para dizer o que se segue.

O “não é não” ao Chega, que defendi embrionariamente no A Clareza Que Defendemos e mais recentemente em plena campanha eleitoral, significa que a direita clássica não é a mesma coisa que a direita populista, que essas diferenças devem ser compreendidas, e que essa compreensão impede a amálgama – leia-se: confusão, embrulhada e miscelânea. Dito isto, do ponto de vista da relação da direita clássica (PPD e CDS) com o Chega, pragmaticamente o “não é não” aplica-se nos dois primeiros níveis de relacionamento face ao poder: (i) a participação do Chega no governo e (ii) o estabelecimento de um pacto formal de governo. Em ambos os níveis, “não é não”. Aliás, Luís Montenegro foi, depois do massacre a que foi sujeito, e antes de si Rui Rio, com a obstinada fixação com o Chega, absolutamente claro: “Eu nunca farei um acordo político de governação com o Chega”.

Agora, depois disto, considerar que tal impede a AD de (iii) negociar medidas e conversar no Parlamento com o Chega é uma loucura com tal cunho antidemocrático, que só é razoável na mente de quem considera natural uma coligação do PS com partidos extremistas e saudosistas de ditaduras e quer condicionar a direita no exercício democrático do poder.

E isto, e não só, porque teríamos que somar aqui o rasto de degradação das instituições, de empobrecimento colectivo e de destruição do estado social, resultado dos 22 nos últimos 30 anos e dos últimos 9 anos de governação socialista, leva-nos ao segundo “não é não”: a viabilização de qualquer governo socialista........

© Expresso


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