Saudades da ditadura
“Os miúdos que nascem agora estão tão longe do 25 de Abril como nós estávamos da 1ª Guerra Mundial.”
Quem me disse isto nasceu em 1968, a exatos 50 anos do final do final da dita guerra - uma guerra que conhecemos nos livros e em alguns filmes, narrativa tão distante e onírica como o faroeste americano ou as invasões francesas. Foi a primeira vez que percebi, em vertigem de desalento e estupor, como é possível aquilo que me parece impossível: que haja, nas gerações mais novas, quem ache que uma ditadura não é uma coisa assim tão má, e que uma democracia não é uma coisa assim tão estimável. É que não fazem qualquer ideia da diferença; todas as suas vidas e referências estão imersas, ensopadas, no sistema democrático.
A começar pela facilidade com que o podem colocar em causa: que outro sistema político é tão dúctil e paciente perante quem o insulta e despreza, quem lhe vaticina, deseja e planeia o fim? Que outro sistema permite que qualquer pessoa se sinta à-vontade para caluniar os respetivos representantes, para os acusar de tudo e mais alguma coisa sem, as mais das vezes, qualquer consequência? Que outro sistema admite os ataques mais soezes e destrambelhados como forma de combate político e hesita tanto em puni-los, por tanto execrar a severidade e o silenciamento?
A essa ausência de noção do que seria viver-se em ditadura - que explica o enlevo com soluções “musculadas” em que que cada vez mais tropeçamos nas redes sociais e na retórica política mas também em........
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