A saga da família Elyas. De Cabul a Portugal
As notícias e debates sobre refugiados e imigrantes costumam focar-se mais nos impactos políticos e sociais decorrentes desses afluxos e menos nas suas histórias de vida. Para além de categorias sociais, uns e outros são pessoas com vidas únicas e cujo conhecimento é importante para nos ajudar a compreender melhor os seus problemas, a melhor forma de nos relacionarmos mutuamente e como lidar com as diferenças culturais, sociais e económicas, sem abdicarmos de manter a nossa identidade civilizacional.
Recuemos a 13 de agosto de 2021, Cabul, Afshar Hospital, Marzia, casada com Ibrahim, dava à luz o Sadra, nascido de cesariana, ao mesmo tempo que os talibãs começavam a retomar o controlo do país e da cidade e a debandada americana parecia iminente, o que veio a acontecer apenas dois dias depois.
Não será difícil imaginar o sentimento da mãe e do pai, felizes com o nascimento do primeiro filho, selo de uma relação de amor, mas apreensivos com o regresso dos Talibãs ao poder, momento pouco propício para trazer ao mundo um novo ser face à possibilidade de a sociedade onde o tinham concebido e vivido sonhos de paixão e amor ameaçar desmoronar-se perante o avanço de um bando de fanáticos cujos princípios eram e são a negação dos mais elementares princípios e direitos de quem tinha sido educado na sociedade afegã, embora numa mescla caldeada pela influência ocidental, particularmente, americana.
Marzia tinha beneficiado da abertura ocasionada pela invasão ocidental e tinha concluído o 12.º ano de escolaridade e Ibrahim tinha feito um master em Business Administration numa universidade indiana e trabalhava no aeroporto de Cabul para uma empresa americana. No quadro da sociedade afegã a sua origem étnica era mais um problema, ambos são Hazaras, descendentes de um povo com ancestrais turcos e mongóis, segundo alguns historiadores ou mesmo, segundo teorias mais recentes, o mais antigo grupo étnico da região, com uma língua própria, maioritariamente xiitas, num país de maioria sunita, considerados uma espécie de casta inferior e discriminados pelos afegãos fundamentalistas das etnias maioritárias. A ligação........
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