Perceção do real e plurissignificado da realidade
Por estes dias, a guerra da informação e desinformação que já aí está — trolls, social bots, contas falsas, fake news, desinformação, ódio, tweets, memes, vídeos, fotomontagens, vírus mediáticos — leva-nos a pensar que a realidade tem várias camadas e que num contexto tão sobrecarregado de informação e hiperligações a realidade se parece com um campo de cebolas. Estamos perante camadas sucessivas de realidade, desde o mais elementar senso comum até ao mais refinado bom senso, da realidade material à realidade aumentada e virtual, do juízo politicamente correto até ao juízo mais dissimulado, do juízo parcial até à plurissignificação do universo hipertextual, da hipótese absurda até à descoberta acidental, da informação à desinformação, da insinuação até à mais requintada ironia, da verdade científica até à pós-verdade e ao negacionismo.
Nesta vertigem informativa há hoje cada vez menos evidências discursivas, mas duas são especialmente reveladoras nos tempos que correm: a primeira diz-nos que a realidade é cada vez mais paradoxal e em definitivo o que parece não é, a segunda diz-nos que nos abeiramos de um limiar perigoso, de uma iminente tragédia dos comuns, de que são exemplo as alterações climáticas, a saúde pública, a ameaça nuclear e a segurança coletiva. Aqui chegados, constatamos, afinal, que declinar os paradoxos da realidade hoje, significa, também, aumentar o campo de observação da realidade, multiplicar os ângulos e as perspetivas de olhar para um problema. Porém, talvez a maior limitação para abordar o problem-solving neste novo ambiente seja a descontextualização, nua e crua, que as bolhas de informação e as novas formas de inteligência carregam consigo e que, estou seguro, nos farão passar inúmeras provações.
O nosso mundo encolheu dramaticamente e........
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