Da Justiça e do Regicídio
Das notas do Capitão Júlio da Costa Pinto, militar das Campanhas de África, jornalista e preso político durante a 1.ª República. Último secretário da Rainha Dona Amélia a quem acompanhou até à morte desta e incansável combatente pelas causas de Portugal fossem elas a monarquia, a presença portuguesa no mundo, a liberdade de expressão, o brio e o mérito do exército português ou as sardinhas e as ameixas de Elvas que mandava à Rainha para França durante a Segunda Guerra Mundial.
Não estão completas nem contam a história toda daqueles dias e daquele dia 1 de Fevereiro de 1908. São parte dela. Que fique claro, isso. Mas é nosso dever de memória contribuir para a Verdade, tão perseguida que foi e é neste processo e em tantos outros então como hoje. Escritas à mão na sua caligrafia muito própria replicam, para arquivo seu, uma carta que terá sido enviada pela viúva de um dos juízes encarregues do processo à Rainha em 1911. Uma cópia deste, entregue por Almeida Azevedo ao Rei D.Manuel II desapareceria da sua casa perto de Londres já nos anos vinte. Estranha ocorrência.
Para além do interesse histórico, maior ou menor para quem as lê, elas são também um símbolo de uma justiça que não foi feita por uma conjugação ou por uma aliança entre poder político e sociedades secretas; de Homens que foram assassinados e dos que, sendo cúmplices ou terem orquestrado esse crime, nunca foram por isso punidos. De um Chefe de Estado, o Rei D. Carlos e do Príncipe Herdeiro D. Luís Filipe e dos seus carrascos, alguns cujos nomes se seguem. E de tantos, antes como agora, a quem a Justiça é negada pelas Instituições do seu Estado ou regime político em vigor.
Mas voltemos a 1908. A situação do país conhecida por todos: colapso do rotativismo, governo de João Franco, dissidências partidárias, crescimento do partido republicano nos meios urbanos, campanhas de afirmação de Portugal nas possessões em África cobiçadas pelas potências europeias. A Carbonária entrara na Maçonaria pela loja A Montanha fundada em 1899. E esta era “unanimemente republicana” nas palavras do historiador António Ventura ao Jornal i em abril de 2015. Ao leme, um Rei: D.........
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