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O Matuto e o Advento

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02.12.2025

O Matuto, sentado na varanda da Casa das Pontes, percebe que o Advento chegou — não com fanfarras nem trovões, mas devagarinho, como quem empurra uma porta que range para não acordar a casa inteira. Foi mais ou menos assim que Deus chegou ao mundo: sem atropelos, mas com determinação.

Lá dentro, a Casa das Pontes ia tomando o pulso ao dia. Dona Sirlei, a gentil esposa do Matuto, circulava pela cozinha de avental florido, a arrumar, endireitar, limpar e criar — num ritmo que mantém tudo em perfeita harmonia.

Em Portugal, neste Advento, as salamandras tossem faíscas e uma chuva miudinha risca as janelas. Aqui, no Brasil, país que tão generosamente acolheu o Matuto no seu seio, o ar-condicionado zune segredos e a piscina sussurra convites líquidos.

Belinha, a visita conservadora das Pontes, surgiu com ar triunfal, trazendo um bolo-rei ainda em construção:
É o Advento, senhores! — anunciou ela, como quem proclama a chegada de uma comitiva diplomática.
O Sr. Rocha, que andava a tentar abrir um frasco de mel desde a véspera, resmungou:
— Mas olha que um bolo-rei no Advento é como o peru na Páscoa… você se adiantou ao calendário.
Marcello, sempre pronto a comentar:
— As tradições portuguesas são tramadas!
Entretanto, Dona Sirlei apresentou um bolo de limão acabado de sair do forno:
— É o Advento… parece que me dá para fazer doces — justificou, abrindo os braços como quem anuncia o retorno de um filho pródigo.
A Belinha suspirou:
— Ai,........

© Jornal SOL