Uma vez, envolvi-me num debate com um leitor que se mostrava indignado por encontrar, em diversas livrarias, o livro Mein Kampf, escrito por Adolf Hitler. As suas alegações não eram, claro, desprovidas de razão: como uma espécie de bíblia nazi, esta obra abriu caminho para as incontáveis perversidades perpetradas pela Alemanha na II Guerra Mundial e, ainda hoje, serve de base para ideologias extremistas perigosas. Porque, então, um livro como este não deveria ser proibido?
Eis que entra em cena um dos mais polémicos e delicados debates culturais dos nossos tempos: a censura literária moderna num tipo de renascimento do tenebroso Index Librorum Prohibitorum (a lista de livros proibidos da Inquisição).
Comecemos pelo Mein Kampf. Dados os indiscutíveis argumentos sobre a sua proibição, por que motivo um livro como este não deveria ser censurado? A resposta resume-se a uma palavra: História. Ampliando-a numa pergunta: se proibimos o acesso a obras que pavimentaram o caminho para uma das maiores tragédias da Humanidade, como garantir que não aprendamos com os erros do........