“Desde que cheguei a esta sala de audiência, sinto-me humilhada. Chamaram-me alcoólica, disseram que estou num estado de embriaguez tal que sou cúmplice do senhor Pélicot. Tenho a impressão de que sou a culpada e que atrás de mim os 50 são as vítimas”. Palavras de Gisèle Pélicot que mostram, mais uma vez, quão pernicioso é o sistema judicial quando de crimes de violência sexual se trata.
Vejamos alguns dos principais argumentos levados a tribunal pelos vários advogados de defesa, na tentativa de desculpabilizar os arguidos, acusados de violarem uma mulher em estado inconsciente, e de descredibilizarem esta vítima de violação, que foi basicamente sedada e ‘oferecida’ pelo próprio marido, a mais de 80 homens. O objetivo: ser violentada sexualmente, enquanto ele ora participava, ora gravava as agressões em fotografia e vídeo. Eis algumas das teorias da defesa: como ela praticava naturismo era, portanto, uma exibicionista. Tinha problemas com consumos de álcool e isso diz muito da sua índole. Na realidade, era tudo um jogo sexual, uma fantasia de casal libertino da qual ela estava a par. Ela fingia estar a dormir e foi cúmplice do marido. Como é que ela podia não saber se aparecia com os olhos semiabertos em alguns dos vídeos? Não havia necessidade de ter o consentimento dela uma vez que o marido era o intermediário. Uma violação não pode ser considerada violação se durar “apenas” uns minutos.
O rol de hediondas ‘desculpas’ não termina, espelhando........