O superior interesse |
A criminalização da pobreza atingiu nos últimos dias o ponto mais alto, ou melhor o grau menos zero, da falta de empatia.
Não sei o que mais me entristeceu, se o desespero da mãe que, perante a decisão de a impedir de ficar com a filha por falta de condições económicas, optou por “raptar” o que já era seu, se a atitude de enorme amor que a levou a entregar a bebé às autoridades, numa resignação de quem sabe que os pobres não têm nem voz nem vontade neste país.
Ficar sem um filho é tão anti-natural que nem sequer existe palavra para o definir. Somos órfãos quando perdemos pais, mas somos invisíveis, deixamos de ter sequer um significante, quando perdemos um filho. E podemos perdê-lo de tantas formas…
Ao entregar a sua filhinha na esquadra, aquela mãe fez o que anos atrás, em tempos de “outra senhora”, se fazia com a roda: entregou-a à sua sorte, uma vez que o Estado considera que com ela, mãe, que não tem casa nem condições económicas, a menina não teria futuro. Melhor ficar numa casa de acolhimento com dezenas de outras crianças, na sua maioria enjeitadas pelos pais, sem um carinho nem um colo. Carinho e colo que aquela mãe, no seu desespero, tentou dar à sua pobre maneira.
Sempre fui muito critica das Comissões de Proteção das Crianças e Jovens. Não do conceito que está na sua génese, mas da forma como (não) se encontram organizadas.
Criadas em 1999, estas comissões assumiram uma estrutura não judiciária com competências de intervenção em........