O ano em que tudo mudou e alguns não perceberam

O ano de 2025 marca um antes e um depois na política portuguesa. Pela primeira vez na História da democracia, um dos partidos estruturantes do regime, talvez o mais importante no período da sua fundação, deixou de contar, pelo menos, em exclusivo, como alternativa de poder. O Partido Socialista, 51 anos depois da Revolução dos Cravos, passou a terceira força política no Parlamento. E se, por uma qualquer crise política que impedisse o partido mais votado de formar governo, o Presidente da República tivesse de indigitar, nos termos constitucionais, o líder do segundo partido mais votado, estaríamos perante um beco de difícil saída constitucional: o segundo partido mais votado ainda foi o PS, mas o segundo partido em representantes do povo, na Assembleia da República, é o Chega, e não o PS.

Se isto já é, ou não, a quarta república de que sempre fala André Ventura, ainda não sabemos. Como noutros países, em que o centro-direita e o centro-esquerda se alternavam no poder, com a democracia cristã e a social-democracia a cooperarem para a construção europeia, o Estado social e o bem-estar geral, pelo menos um dos lados dá mostras de erosão profunda, sobretudo se considerarmos a tendência do voto jovem. Firmado no terreno, porém, o PS demonstrou, nas eleições autárquicas, um forte enraizamento na sociedade portuguesa, pelo menos, ao nível dos quadros, da organização e dos eleitores “de proximidade”, ou seja, aqueles que votam em quem realmente conhecem de perto. Mas o crescimento do Chega fez-se mais à custa dos socialistas do que do PSD – contrariando velhas teses de um certo PS, mais ligado à tendência de Pedro Nuno Santos, que apostava no abraço de urso do Chega aos sociais-democratas, deixando uma passadeira livre para que os socialistas se considerassem o único grande partido capaz de salvar a democracia. E rapidamente alastrará, também, às........

© Visão