O Natal que deixou de existir |
Tenho a alegria de ser da geração que deixava o sapatinho na chaminé, na esperança de, na manhã de Natal, receber um presente. Cresci a associar o Natal a uma espera quase sagrada. Não do objeto em si, mas da surpresa, do mistério, do tempo suspenso entre a noite e a manhã. O presente era importante, claro, mas não era o centro. O foco era o ritual: ir em busca do pinheiro (na época, natural), colher o musgo para construir o presépio, acender as luzes, guardar a melhor abóbora para cozinhar os bilharacos. Havia menos coisas, mas mais tempo, mais presença.
Hoje, o Natal parece começar quando ainda nem sentimos o frio do outono. As superfícies comerciais são exímias na promoção da compra, com ilusórios descontos, atropelando valores e desfazendo o sentido da época. Começa nas montras, nos anúncios insistentes, nos lembretes digitais que nos dizem que estamos atrasados. A lógica da urgência tomou conta de uma época que, paradoxalmente, deveria ensinar-nos a esperar. Atropelamos o Advento, comprimimos semanas de preparação em listas de compras e........