Por anos, acreditei que eu era uma pessoa melhor alcoolizada

Acreditei por muito tempo que eu era uma pessoa melhor alcoolizada. Foi um dos mitos que criei para justificar minhas bebedeiras. Com certeza eu fui alimentando essa ideia por tudo que via ao meu redor, sobretudo em propagandas, filmes, séries… Quando observava as pessoas bebendo e sendo felizes, socializando, achava tudo muito sedutor e libertário. Aquilo me parecia o máximo e muitas vezes eu repetia cenas da ficção para testar. Era lindo no começo. Nem sempre foi um desastre.

Os drinks lindos, coloridos, me seduziam, pareciam uma obra de arte. É bem verdade que muitas vezes foi de fato divertido… Mas então, bem sorrateiramente, a bebida foi me destruindo. Senti os primeiros efeitos ruins com os primeiros porres, os primeiros vexames, as primeiras vezes que me perguntaram: Você se lembra do que fez ontem? O álcool destrói lenta e legalmente as pessoas em plena luz do dia e em todos os lugares. É legal nos dois sentidos: é permitido e dá certo status.

Estou lendo um livro ótimo da escritora Rosa Montero, "O perigo de estar lúcida", em que ela cita as questões alcoólicas de vários artistas. "O álcool é a desgraça maior dos escritores, sobretudo durante o século 20. Dos nove prêmios Nobel de literatura norte-americanos nascidos nos Estados Unidos, cinco foram alcoólatras desesperados, entre eles Ernest Hemingway e William Faulkner."

Sempre gostei de ler e de pensar como ocorre a criação. Daí hoje me dou conta de tudo que esses dois, só para ficar no exemplo do livro, atravessaram durante a vida para nos deixar clássicos como "O velho e o mar" e "O som e a fúria". "A bebida realça a sensibilidade. Quando bebo, minhas emoções se intensificam e as coloco em conto. Os contos que escrevo quando estou sóbrio são idiotas…", disse Scott........

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