Lobos em skins de cordeiros

Na rua os covardes continuam sendo covardes. Calados na fila do mercadinho ou açougue, não levantam suas vozes tanto quanto maiusculizam seus caracteres odiosos a alfabetizar pensamentos pútridos. Na verdade, tendem a ser até educados demais, polidos, de voz e cabeças baixas, porque conhecem o funcionamento do que é viver em comunidade e, por vezes, o peso destas sobre suas recalcadas existências. Podem discordar, odiar, mas conhecem e obedecem por puro e simples medo. Aprenderam, na prática, que seu espaço acaba quando o do outro começa. Porém, quando estão online podem liberar o que Freud chamou, em "O Mal-estar na Civilização", de "um forte quinhão de agressividade".

Não baixa cabeça, pede cabeças. Até perde a própria atrás de avatares de desenhos animados ou bandeiras quaisquer. Persegue, acha, segue, aponta, manda mensagem privada, depois pública, destrói, ri, mostra os dentes digitais, depois publica, exibe para os seguidores quem é que manda prints, sente prazer, dá um F5, vê quantas curtidas tiveram suas salivadas palavras, continua lá, contabilizando, monetizando porque, afinal, se a rua tem leis, a internet ainda está longe disso.

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Ouve alguém chamar seu nome. Esquece um pouco do êxtase da caçada digital, e assimila o recado: "Vá comprar pão pro........

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