Em época de eleição, problemas antigos parecem ter sido descobertos só agora

O que pensa o candidato quando se vê obrigado a andar pelas ruas da cidade que da cidade não parecem? Aquelas esburacadas, sem asfalto escudando o chão de barro, com o fio cinza dos córregos contrastando o verde do alto mato —morada das pragas várias, as que voam, as que rastejam, as que roem, as que picam. Como é observar a ineficiência de uma gestão que não conseguiu levar o mínimo aos que, sem ele, criam seu próprio método de subsistência?

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Evidentemente a vida política exige um certo grau de cinismo, mas será que, ao subestimar o senso crítico da população pobre, os candidatos à prefeitura —tanto os com histórico de gestão quanto os com promessas de uma administração melhor— de fato acreditam que passear pelos cantos onde o sol faz pelar a desgraça é suficiente?

Ouvir (só agora) os anseios da população; ver (só agora) o estado deplorável das regiões mais pobres; tocar (só agora) os dedos tortos de tanto limpar a casa dos outros e as palmas grossas de quem bate laje e enche coluna; saborear fritura ou PF —o prato feito— (só agora) fingindo prazer para se enturmar; sentir (só agora) o cheiro de fossa e carniça vindo de terrenos baldios e seus matagais, basta? Os cinco sentidos passam a verter empatia até então escassa.

Candidatos do povo. Mostram-se determinados........

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