Jamais analista

Só a loucura me interessa. Foi isso o que eu disse ao tentar uma vaga em um dos principais institutos de formação em psicanálise do país. E obviamente não passei.

Eu poderia ter dito: "Ah, eu tenho esse ímpeto, desde muito novinha, de ajudar as pessoas, de melhorar a vida delas". Mas não consegui mentir. O que eu tenho é uma curiosidade perversa pelo cachorro de dentes afiados que dorme dentro de cada um.

Sempre escrevi sobre meus medos, mas acho que nunca contei a vocês o maior de todos eles: o papo furado. Todo mundo é impostor, mas os muito controlados, normais, elegantes são os piores. Quanto engodo bípede ainda vamos aturar até o dia esplendoroso em que começaremos a gostar de jardinagem?

Nunca serei uma analista, mas não deixo de sonhar com algumas cenas em meu consultório. Os pacientes chegando cabotinos, eretíssimos, e aos poucos curvando suas estruturas elitistas, amolengando seus ligamentos robustos e começando a me entregar seus "despencamentos".

E eu provocando mais e mais até o barulho do rompimento psíquico silenciar a lenga-lenga burocrática. Do pequeno buraco, a loucura começará a colocar sua carinha pra fora. A forma mais genuína de se estar no mundo iluminando toda a sala.

Sou uma voyer de maluquice, já me vejo contorcendo os dedos dos pés em prazer. Quando a........

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