Pergunto se dói mais que injeção. Ele diz que depende da injeção. "Lembra da Benzetacil? Essa doía bem mais." Pergunto se dói tipo tirar sangue. "Depende da mão da enfermeira." Fecho os olhos, e o tatuador começa a desenhar uma pequena estante de livros no meu antebraço. Um desenho que fiz em um bloquinho de anotações, no dia em que meu casamento acabou.
Olhei meu desenho infantil e pensei: É isso. "É isso" o quê? Eu não queria exatamente uma tatuagem de estante de livros; queria a dor de uma caneta me esfolando a pele, escrevendo qualquer coisa na minha pele. Dando nome para aquela alegria que não era de bom-tom sentir e para o desolamento que vinha por baixo da hipomania e que eu sabia ser a maior tristeza que eu já havia experimentado. Queria um nome ou um desenho que pudesse me contar da vida pela frente ou de toda a vida que tinha ficado para trás.
Na infância eu escrevia meu nome com canetinhas bem escuras e desenhava as letras bem gordas. Eu pintava dentro delas, preenchia com bolinhas, listras, corações e olhos. Algumas ainda ganhavam rabos, chifres e remendos rococós. As vogais tinham até pernas e pelos. Toda........